Carreira Militar
Resgate da Memória de um Herói
por Carlos Fonttes – AHIMTB
Eu tinha uma dívida para com a história, que era, resgatar a memória de um herói de guerra que por um lapso do destino, através dos tempos, praticamente ficou esquecido na sua cidade de origem.
Até então a cidade de Uruguaiana (RS), apenas comemorava, como herói da 2ª Guerra Mundial, o Cabo Luiz Gomes de Quevedo, que tombou em ação nos campos da velha Itália e, como homenagem póstuma, foi surgindo escola, bairro, rua, e até mesmo um clube na cidade com seu nome.
Creio, sinceramente, ser um dever de justiça, além de um privilégio, resgatar, com grande responsabilidade para a história, o nome de mais um heroico combatente filho de Uruguaiana, o qual pertencia ao então 8º RCI e partiu, voluntariamente, para os campos de batalha da 2ª Guerra Mundial onde pereceu em ação.
Até os dias de hoje, o “Regimento Conde de Porto Alegre” (8º RCMec), prestava homenagens apenas a um herói da FEB que morrera em combate, o Cabo Luis Gomes de Quevedo e nunca mencionara a existência do Soldado João Alberto Alves, (retrato a óleo acima). Então, graças à iniciativa do Major Luiz Eduardo Lopes de Farias, sob o Comando do TC Wilson Mendes Lauria no 5º RCMec, que escreveu sua história, (Quarai). Ao pesquisar aquele trabalho, fomos confirmar que esse combatente pertencera ao efetivo do 8º RCI e não daquela Unidade, como pensávamos, quando voluntariou-se para a Força Expedicionária Brasileira. Pois bem; para tanto, é necessário que possamos comentar a longa trajetória desse personagem na história:
O Gen Gilberto Barbosa Figueiredo, quando comandou a 2ª Bda C Mec (1991 a 1993), em Uruguaiana, nos fez o convite para projetar um monumento e pintar a óleo o retrato desse expedicionário para o quartel do 5º RCMec, de Quarai. Assim o fizemos e, após, fomos inaugurar, o monumento em homenagem ao expedicionário da FEB, Sd João Alberto Alves, naquela cidade onde se encontravam alguns de seus descendentes que lá residiam.
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Quando da inauguração do monumento ao Expedicionário JOÃO ALBERTO ALVES, no quartel do 5º RCMec – Quarai, junto com seus familiares e o autor (fardado); do monumento (à retaguarda) e do retrato do referido Febiano |
Muitos anos mais tarde, junto com aquela Unidade e com o excelente apoio dos Sargentos Vladimir Soares da Fontoura (Aux RP) e Teodoro Luz dosAnjos, (Encarregado do Museu), fomos confirmar que o referido expedicionário pertencia ao 8º RCI e que partira dessa Unidade, para o Teatro de Operações na Itália, onde pereceu em ação. De posse de suas alterações passadas pelo então 8º RCI, pudemos biografar parte de sua vida militar:
O Soldado João Alberto Alves incorporou em 6 de fevereiro de 1942 no 8º RCI. Era filho de Pedro Alves e Reacilva Pereira Alves, nascido em Uruguaiana, em 12 de julho de 1920, com os seguintes dados característicos: "...sorteado, solteiro, jornaleiro, alfabetizado, com 1,71m de altura, cor infiática*, olhos castanhos escuros, cabelos pretos ondulados, nariz reto, boca regular, rosto oval, não tem sinais particulares..."
OBS: *cor infiática: possivelmente cor indiática – descendência indígena.
Conforme o restante de suas alterações, passadas no 8º Regimento de Cavalaria Independente, esse soldado frequentou a Escola Regimental e, em 22 de novembro de 1943, embarcou para o Rio de Janeiro, fazendo parte do contingente destinado à 1ª Região Militar, sendo excluído do estado efetivo da Unidade em 1º de fevereiro de 1944 e incluído na Companhia do QG daquela Região.
De uma relação de suas alterações passadas pelo 11º Regimento de Infantaria, verificamos que ele esteve nessa Unidade de 20 de julho a 23 de outubro de 1944 quando embarcou para o Teatro de Operações na Itália no dia 28 de setembro, fazendo parte do 2º Escalão da FEB, da 1ª Divisão de Infantaria, sob o comando do Gen Euclides Zenóbio da Costa, integrando o Comando do V Exército Americano, desde a chegada do contingente brasileiro em Livorno, sob o controle de operações do IV Corpo. Nosso combatente veio no Destacamento “Gen Falconiere” a bordo do transporte americano “Gen Meigs”, chegando ao Porto de Nápoles no dia 6 de novembro de 1944, sendo conduzido para o Porto de Livorno e para o campo de instrução. Foi designado para o “Grupamento do Gen Bandeira”.
Pelo que se averiguou desse soldado, conforme suas alterações do 11º RI, ele pertencia ao Pelotão de Minas, provavelmente sua função seria de “Sapador Mineiro” (existente na cavalaria hipomóvel brasileira em tempos passados), o que comprova no elogio abaixo consignado pelo seu Comandante:
“... A 22, (Fev 1945), foi louvado nominalmente pelo seu Comandante de Pelotão de Minas, pela maneira dedicada e incansável com que procurou trabalhar nas missões dadas ao Pelotão, nos dias 5, 6 e 7 do corrente, contribuindo para que o Pelotão pudesse delas desempenhar...”
Desde 27 de fevereiro ele se encontrava na Região de Malandrona (Monte Castelo), operando com seu Pelotão, quando, no dia 5 de abril foi morto em ação, conforme fez público em suas alterações:
“... A 7 (abril de 1945), foi público ter sido morto em ação, a 5 do corrente. Em conseqüência, foi excluído do estado efetivo do RI (Regimento de Infantaria) e do C.C.A.C. pelo Aditamento ao Boletim Interno nº 106, de 7 IV 45. A 13, foi louvado nominalmente pelo Sr Cap Cmt da Cia, nos seguintes termos: Morto em ação quando providenciava o transporte de minas retiradas. Valoroso companheiro, jamais será esquecido por todos seus companheiros da CCAC. Sua morte gloriosa no cumprimento do dever militar, nos será sempre apontada como exemplo e nos estimulará nas missões mais difíceis que tenhamos que cumprir, mostrando-nos sempre o pouco valor da vida, em face dos sagrados interesses da nossa Pátria, que tudo espera de nós. Ao digno soldado Alberto – nosso companheiro – uma sincera homenagem póstuma da Companhia de Canhões Anti-Carro. Estacionamento em Torreta Terme (Itália), 13 de abril de 1945. Cap Manoel Francisco Pacheco – Ajudante de Pessoal”.
De uma ficha necrológica da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Secção de São João Del Rei nº 66 – verifica-se que o referido expedicionário pertencia ao 2º Escalão da FEB e partiu do Porto do Rio de Janeiro em 20 de setembro de 1944. Morreu em 5 de abril de 1945, em ação, na Região de Malandrona (Monte Castelo), quando procedia, com outros elementos, a limpeza de um campo minado. Era Comandante de seu Batalhão o Cel Delmiro Pereira de Andrade; e da sua Companhia, o Cap Murilo Valporto de Sá. Conforme ainda essa documentação, ele foi agraciado, pós-morte, com as Medalhas de Campanha Cruz de Combate de 2ª classe e Sangue do Brasil.
Assim temos, por dever de justiça e como historiador, o privilégio de resgatar esse herói que esteve esquecido na memória da sua cidade.
Mas, assim mesmo, embora transcrevêssemos toda sua trajetória no livro histórico do 8º RCMec, publicado em 2012, ainda nos faltava uma complementação para que pudéssemos pagar toda dívida àquele herói de guerra.
E fomos atrás dessa peregrinação na cidade de Quarai e, junto ao Comandante do 5º RCMec, Ten Cel Cav Ilki Amaro Júnior, com sua cortesia peculiar de oficial de Cavalaria, nos ofertou o quadro a óleo daquele combatente e uma placa de bronze que estivera no monumento que no passado projetáramos e que hoje, permanece naquela unidade, onde guarda a memória póstuma de outro herói de guerra, que pertencera aquela Unidade, o Soldado Fredolino Chimango. Fizemos, então, a entrega daquele material ao atual Comandante do 8º RCMec - “Regimento Conde de Porto Alegre”, de Uruguaiana, Ten Cel Cav Marcus Ostwald Corbal.
Ao finalizar este, com o dever cumprido, repentinamente nos veio à mente aquela frase de Luiz de Camões:
"Não me mandas contar estranha história, mas mandas-me louvar, dos meus, a Glória".
Fonte: Boletim "A Retomada", edição de 23 Fev 13
recebido por correio eletrônico
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