Calúnia ou prevaricação?
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Calúnia ou prevaricação?



A indicação dos ministros que compõem o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma atribuição exclusiva do presidente da República. Em fevereiro de 2010, o ministro Cesar Asfor Rocha, então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi convidado por Lula para uma audiência que durou cerca de trinta minutos. Falaram sobre os problemas da Justiça, trocaram elogios e, por fim, o presidente comunicou ao magistrado que o havia escolhido para ocupar uma vaga que seria aberta no STF. Combinaram que o assunto deveria ser mantido em segredo até o anúncio oficial - e despediram-se com um abraço. Em novembro, em um encontro na casa do presidente do Congresso, José Sarney, o ministro Cesar Asfor comunicou ao senador que não tinha mais interesse na indicação para o cargo e pediu a ele que informasse ao presidente Lula que se sentia atingido em sua “dignidade pessoal”. Asfor Rocha nunca mais falou sobre o assunto. Em março passado, a vaga no STF foi ocupada por Luiz Fux, seu colega de tribunal.
O que aconteceu nos nove meses que separaram o convite de Lula e a desistência de Cesar Asfor é um enigma que dominou com especulações o meio jurídico e político de Brasília. A repentina recusa do magistrado contrastava com seu público e notório entusiasmo diante da possibilidade de se transferir para a mais alta corte de justiça do Brasil. Governadores, advogados, políticos e empresários promoviam romarias ao gabinete do “futuro ministro do Supremo” para cumprimentá-lo antecipadamente pela indicação, dada, então, como certa. A saída de Asfor da disputa pela vaga no STF pareceu inexplicável a muita gente. Quando se revelou que Asfor havia justificado sua desistência alegando a preservação da sua “dignidade pessoal”, a especulação foi às alturas.
VEJA levantou os reais motivos responsáveis pela súbita e inesperada mudança de ideia do magistrado. Cesar Asfor teve seu nome envolvido em uma acusação ruinosa para qualquer magistrado: a de receber propina. Não bastasse isso, potencializou os efeitos desastrosos da acusação o fato de ela ter partido de ninguém menos que o próprio presidente da República. Mas não foi o mesmo Lula que fez o convite a Asfor nove meses antes? E o fez a seu modo, com uma profusão de elogios e um abraço carinhoso no final da conversa. O que fez Lula retirar a indicação de Cesar Asfor? VEJA ouviu de interlocutores diretos de Lula relatos esclarecedores sobre o episódio. A essas pessoas Lula confidenciou que havia desistido de indicar o ministro depois de ter sido informado de que ele teria pedido dinheiro para decidir no STJ em favor de um recurso de interesse de determinada empresa. Chegou aos ouvidos de Lula que, mesmo tendo recebido a propina combinada, Cesar Asfor rompeu o acordo e julgou o processo em desfavor dos interesses dos corruptores. Lula disse a seus interlocutores que se convencera da veracidade da denúncia contra seu, até então, candidato in pectore a uma vaga no STF. Por que razão o presidente aceitou como verdadeira a grave denúncia contra Asfor? A explicação dada por Lula foi que sua fonte era um amigo que merecia sua total confiança, conforme relata um dos interlocutores: “Em uma recepção no Palácio da Alvorada, em outubro, perguntei ao presidente quando ele anunciaria a escolha de Cesar Asfor para o Supremo. ‘Não vai dar’, respondeu o presidente, um amigo meu disse que ele pediu uma mala de dinheiro para decidir um caso”. Espantado diante da revelação, o interlocutor teve outra surpresa quando Lula revelou que o amigo da história era Roberto Teixeira, seu advogado e compadre.
Com um ou outro detalhe discrepante, Lula contou a mesma história a um ministro, a um seu ex-ministro, a um governador e a um advogado de intensa militância nas altas cortes da capital federal. Ela pode ser resumida assim: Roberto Teixeira teria procurado Cesar Asfor na condição de advogado de uma empresa de fertilizantes para conversar a respeito de um processo que tramitava no Superior Tribunal de Justiça. Depois de ouvir os argumentos do advogado, o ministro teria pedido 500.000 reais de propina para julgar a causa a favor da empresa. Indignado com a quebra do compromisso, Roberto Teixeira teria reclamado com o presidente, que decidiu suspender a indicação do ministro. Cesar Asfor soube dessa versão em outubro do ano passado e no mês seguinte pediu a Sarney que levasse a Lula a mensagem cifrada em que citava sua “dignidade pessoal”. Antes de falar com Sarney, Asfor cuidou de rastrear a origem da história e constatou que ela realmente tivera origem no gabinete presidencial. Sempre bem informado sobre os bastidores do poder, o senador José Sarney confirmou ao amigo Asfor, com a polidez de sempre, que realmente “havia algo de errado acontecendo”. 
Procurado por VEJA na semana passada, Cesar Asfor confirmou que o suposto suborno foi, de fato, a causa de sua desistência à vaga no Supremo. “Fui vítima de leviandades por parte de pessoas que queriam inviabilizar o meu nome para o Supremo. Mas prefiro acreditar que o ex-presidente da República foi enganado por essas pessoas que usam a sordidez como linguagem”, disse o ministro. Asfor contou a amigos que tomou conhecimento da história pela primeira vez através de um colega da própria magistratura. “Ele me disse que soubera de amigos do Palácio do Planalto que o presidente estava falando coisas absurdas a meu respeito. Mas não quero mais falar sobre isso. É coisa que pertence ao passado.
O advogado Roberto Teixeira, personagem central de todas as versões da mesma trama, esteve com o ministro Cesar Asfor no dia 3 de agosto do ano passado, em audiência oficial no gabinete da presidência do STJ. Mesmo sem procuração da empresa, apresentou-se como defensor da Fertilizantes Heringer S/A e explicou que estava apresentando um recurso ao tribunal para tentar suspender o julgamento anterior, que impedia uma unidade da empresa de operar. A fábrica, localizada em Paranaguá, no estado do Paraná, teve sua produção interrompida por provocar danos ao meio ambiente com a eliminação de resíduos tóxicos na atmosfera. A audiência concedida por Asfor a Teixeira durou cerca de quinze minutos. Um mês depois, o recurso de interesse da Heringer, relatado por Asfor, foi negado por todos os onze ministros da corte especial do STJ. A Heringer informou que Teixeira não foi contratado como advogado e esclareceu que ele atuou na condição de consultor. Consultor de quê? A empresa não respondeu. Teixeira também não quis entrar em detalhes. Por escrito, informou apenas: “Nossa atuação como advogados está submetida exclusivamente à Ordem dos Advogados do Brasil, não cabendo à revista VEJA ou a qualquer outra entidade exercer o controle, avaliar ou censurar a nossa atuação profissional inclusive através de perguntas tendenciosas, objetivando a cizânia, e que, ademais, nenhuma conexão mantêm com o caso específico utilizado para a veiculação das mesmas”. A assessoria do ex-presidente Lula informou que ele está em viagem ao exterior e não pôde ser localizado. Cesar Asfor guarda para si a convicção de que o encontro que teve com Teixeira e o julgamento desfavorável a Heringer estão na origem da história contada a Lula e que lhe custou uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.
Fonte: Veja
Fonte:  FENAPEF
COMENTO: eu pretendia não citar mais aqui o patife que, por oito anos, colocou o país na latrina da história política mundial, mas o fato acima relatado, mostrando (mais uma vez) a falta de caráter do sujeito não pode passar em "brancas nuvens". O jornalista Políbio Braga foi direto na ferida. Ao comentar o assunto, apresentou as duas únicas hipóteses de explicação. "Não existe alternativa para Lula: 1) Ele é caluniador ou prevaricador (não tomou providência alguma sobre o caso). 2) É tudo mentira de Cesar Asfor e de Veja, mas neste caso precisa desmentir tudo e buscar reparação na Justiça."



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