Rios são rotas do tráfico
Para transportar a droga, os traficantes abrem picadas no meio da selva, usam barcos e até obrigam homens e mulheres a carregar pasta-base de cocaína no meio da selva. A droga é, depois, levada até os pontos de embarque, vigiados por homens fortemente armados.
Os rios Juruá Mirim e Paraná dos Mouras, afluentes do Juruá, são as rotas mais utilizados pelos traficantes. Mas é o Juruá Mirim, que deságua no Juruá nas proximidades da sede do município de Porto Walter, o preferido dos cartéis da droga. E devido à ação dos traficantes, muita gente evita navegar pelas águas barrentas desses rios.
Antes, o Rio Môa era uma das principais rotas do tráfico, mas com a instalação de um pelotão do Exército, os traficantes desviam antes da base militar para o Rio Paraná dos Mouras, através de trilhas que ligam os rios. Eles abrem trilhas na para chegar ao Rio Paraná dos Mouras. As trilhas ficam próximas a ramais dos municípios de Mâncio Lima e Rodrigues Alves.
Os relatos dos moradores são conta de que a Comunidade Tamburiaco — situada próxima às cabeceiras do rio, bem na divisa dos dois países — é hoje o lugar mais arriscado para se viver. Ali, conforme os relatos, peruanos e brasileiros transitam livremente — e fortemente armados — para negociar a cocaína. Ainda conforme os moradores, o trânsito de estranho (traficantes) é bem intenso naquela área.“Não mexemos com eles. Eles passam e ninguém intervém”, relata um morador da região do Alto Juruá, sob a condição de não ter seu nome revelado. O morador admite que o simples fato de incomodar esses estranhos é perigoso.
Desaparecimento de pessoas
O tráfico pode, também, ser o responsável pelo sumiço de várias pessoas que se aventurem em navegar pelo rio Juruá Mirim. Marcos, um morador de Cruzeiro do Sul, viajou para o alto Juruá Mirim. À mulher, ele disse que iria construir barcos. E já faz seis meses que ele partiu e ainda não voltou. O caso está sendo investigado pela polícia.
Além do caso de Marcos, ribeirinhos do Juruá relatam que ocorreram outros desaparecimentos, mas as famílias não comunicam à polícia temendo represálias dos traficantes.
Há, também, relatos de que os traficantes estão aliciando moradores para o tráfico. Alguns deles, por sinal, são “convidados” a guardar a pasta-base de cocaína em suas casas. Foi o que aconteceu com ribeirinho morador das margens Rio Juruá Mirim. De acordo com ele, o convite teria partido de um funcionário público: “Recomendei que procurasse outro porque comigo não ia conseguir”.
Mais pelotões do Exército
O comandante do 61° BIS, tenente-coronel Alexandre Jansen, considera o tráfico com um “problema muito complexo” no Vale do Juruá. E para inibir a ação desses criminosos, o militar avalia ser necessária a instalação de mais pelotões do Exército na área.
De imediato, o coronel Jansen defende a instalação imediata de unidades militares às margens do Rio Môa e no município de Marechal Thaumaturgo. “Até já propus ao comando do Exército a instalação de um novo pelotão em Porto Walter”, disse. A cidade de Porto Walter fica no meio caminho entre Juruá Mirim e Paraná dos Mouras.
O Exército tem informações de que brasileiros que vivem nas cabeceiras do rio Juruá Mirim cruzam a fronteira para fazer compras no município peruano de Cantagalo. Na volta, além dos alimentos, eles trazem drogas.
Droga sai do Acre em balsas
Parte da droga que cruza a fronteira do Acre vai direito para Cruzeiro do Sul, a segunda cidade do Estado. Da cidade, o maior volume — uma pequena parte é distribuída entre os traficantes locais — é enviado para Manaus (AM) ou para Rio Branco, a capital do Acre, e dessas cidades segue para o Nordeste e Sudeste e, posteriormente, para exportação.
Até recentemente, o rio Juruá era o principal meio para escoar a droga. A cocaína era acondicionada em carregamentos de farinha — o município de Cruzeiro do Sul é um dos maiores pólos produtores de farinha de mandioca da Amazônia — e despachada para Manaus. Com a descoberta da rota, a PF intensificou a vigilância nas balsas que saem de Cruzeiro do Sul.
(*) Genival Moura é repórter do site Tribuna do Juruá. A reportagem tem texto final e informações adicionais do jornalista Chico Araújo, da Agência Amazônia.