Resulta sintomático, para não dizer oportunista, a comédia que Ingrid Betancourt veio montar na América Latina, depois que ocorreram vários eventos relacionados com a paz e a guerra no país, todos eles com influência na próxima eleição presidencial.
Não é gratuito que a eternamente oportunista e obsessiva senhora participe em Madri de uma passeata que se converteu em um dissimulado ato politiqueiro em favor de sua nunca ocultada intenção presidencial; ao que parece, comenta-se, a falar com todos os padrinhos abertos e soterrados das FARC na América Latina e, que casualidade!, quando precisamente a Comissão Primeira da Câmara reprova o projeto de reeleição, e quando do escândalo das pirâmides assim como o inverno, põem o governo entre a cruz e a espada.
Ingrid não vem se converter na chanceler dos seqüestrados em poder das FARC, para que os terroristas os libertem antes do Natal. Isso é tão ingênuo quanto pensar que Cesar Gaviria não anda no mesmo engodo de ser outra vez presidente, sem levar em conta que já foi bem medíocre nesse cargo.
O que até Pastrana, Samper e Belisario, três vergonhas para a Colômbia no trono de Bolívar, também quiseram repetir, quatriênio e até oito anos mais no Palácio de Nariño.
Ingrid Betancourt destapou as cartas muito cedo quando foi fazer lobby na França, a dizer aos franceses que Sarkozy é a oitava maravilha do mundo, que foi graças a esse governo que a libertaram e, portanto, recebeu a imerecida Legião de Honra com o complemento do ato circense de Michelle Bachelet, que teve a audácia de propô-la para o Prêmio Nobel da Paz sem que reunisse o mais mínimo requisito para isto.
O que certamente Ingrid sabe, porém parece não lhe importar em honra de colher rendimentos politiqueiros individuais, é que pôr os governos pró-terroristas da Venezuela, Equador, Nicarágua, Brasil, Bolívia, ou aos solapados da Argentina, Chile e Paraguai, ao que parece para mediar pela libertação dos seqüestrados, é voltar ao pântano.
É voltar atrás no estúpido conto chinês da zona desmilitarizada de Pradera e Florida; é volta a reviver o complô que haviam montado Correa, Chávez, Teodora Bolívar[1] e as FARC em torno do acordo humanitário, com o arranjado acompanhamento dos mandatários pró-terroristas e de imediato o reconhecimento massivo de status de beligerância, embaixadas, financiamento de Chávez às campanhas dos comunistas e instalação de um governo títere do chavismo, para depois implantar uma ditadura comunista ou levar a Colômbia a uma imprevisível guerra civil.
Uma coisa é o genuíno desejo que todos os colombianos temos de ver livres o coronel Mendieta, os demais militares e policiais seqüestrados, e em geral a todas as pessoas que os terroristas das FARC privaram da liberdade. Porém, outra coisa muito diferente é brincar com fogo e dar respaldo insensato aos interesses politiqueiros de Ingrid Betancourt, Luis Eladio Pérez como moleque de recados das FARC com o mesmo conto chinês, e de Fidel Castro por meio de seus peões Hugo Chávez e Rafael Correa.
O que Ingrid Betancourt deveria fazer, em lugar de ficar com politicagens com idéias tão descabidas como a de fazer essa convocatória internacional – algo tão absurdo quanto sua estupidez funcional quando conscientemente foi ao Caguán procurar que a seqüestrassem –, seria melhor dedicar-se a viajar pelo mundo para contar em todos os cenários políticos e acadêmicos a verdade do terrorismo fariano, e a buscar uma condenação e uma pressão sem par, para que os bandidos liberem os seqüestrados, deponham as armas e deixem a Colômbia em paz.
Ingrid deveria dedicar seu tempo a burilar o relato do seu livro, e contar ao planeta inteiro as barbaridades que têm cometido os comunistas e seu braço armado, em honra de escravizar a Colômbia. Deveria aproveitar a ocasião para recompor as maltratadas relações interpessoais que tem com Clara Rojas, a quem converteu em vítima circunstancial de sua histeria de menina malcriada.
Deveria aproveitar a ocasião para pedir o perdão coletivo do povo colombiano, pois devido à sua estulta arrogância as FARC a converteram na jóia da coroa, e se não fosse a fibra e o caráter de aço do Presidente Uribe, a Colômbia como nação teria colapsado na maré de fraudes e ardis que traziam entre as mãos as FARC, Chávez, Teodora e demais espécimes conspirando contra a Colômbia.
É muito simples: se Ingrid Betancourt não tivesse ido fazer politicagens em Caguán com a histeria de que entraria em San Vicente, mais com o desejo de causar impressão do que com a sensatez de pessoa feita e direita que busca soluções de fundo para um problema tão grave como a violência comunista, nem a Colômbia, nem o presidente Uribe, nem os colombianos, nem a história pátria teríamos tido que suportar o espalhafato e o desrespeito de três bufões como Hugo Chávez, Daniel Ortega e Rafael Correa.
É hora também de que os meios de comunicação amadureçam e deixem de dar tanto protagonismo midiático a quem só merece um severo julgamento ético, político e histórico, por haver cometido um erro tão infantil quanto irresponsável.
A opinião pública colombiana está suficientemente crescida e madura para que venha alguém a distorcer a realidade. Ingrid Betancourt não quer a libertação dos seqüestrados. Atua do mesmo modo que Chávez e as FARC. As vítimas são o de menos. O importante para eles três é tirar proveitos politiqueiros no futuro imediato, por meio de uma eventual libertação.
É apenas lógico supor que o Presidente Uribe, muito sensato e certeiro em suas apreciações, já deve ter feito esta mesma leitura do calculado interesse humanitário de Ingrid Betancourt; igualmente quando Teodora saiu deitando falação por todo o continente, deixará que fale e vocifere, porém não permitirá que a soberania nacional seja manuseada pelos moleques de recado de Fidel Castro.
Por outro lado, é de se supor também que o eleitorado colombiano já amadureceu mais e não permitirá que o induzam por caminhos de caras agradáveis como a de Pastrana, ou promessas como as de Noemí, ou embromações como as dos dois Gaviria, etc.
A Colômbia necessita de continuidade firme e decidida da estratégia de segurança democrática, com uma visão clara de investimento social e desenvolvimento sustentável.
Não se necessita de acompanhamento internacional para ressuscitar o decomposto cadáver político das FARC. Necessita-se de participação internacional para fechar todas as portas de apoio ao terrorismo, e para que tragam investimento em moeda cantante e sonante nas zonas em que o governo tirou ou vai tirando dos terroristas.
Se Ingrid vier para isso, para tirar qualquer rótulo político dos seqüestradores e buscar vinculação internacional ao desenvolvimento do agro, seja bem-vinda. Se não for assim, é melhor que fique em Madri ou Paris dedicada a reviver lembranças muito pessoais com Dominique de Villepin, e concentrada em falar nos currais politiqueiros de sua raiva no coração e dos segredos que, segundo ela mesma disse, deixou na selva.
A Colômbia necessita de quem apresente soluções para os problemas, não de pessoas que encontrem problemas em cada solução. É necessário terminar o trabalho que Uribe iniciou. É urgente dizê-lo sem rodeios que Ingrid Betancourt nem tem a estatura mental para esse desafio, nem a capacidade, nem os antecedentes suficientes para governar a Colômbia.
Que esteve seqüestrada e foi vítima de seu próprio invento, é algo muito doloroso; porém, daí a que tenha o carisma e a disposição pessoal para tirar a Colômbia do atoleiro que politiqueiros como ela a afundaram, há um enorme trecho a percorrer...
* Analista de assuntos estratégicos – www.luisvillamarin.co.nr
1. “Teodora Bolívar” é o codinome utilizado pela senadora colombiana Piedad Córdoba dentro das FARC, onde é tida como “embaixadora”. (N.T.)