Por 10 votos a 4, o Conselho de Ética da Câmara absolveu o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, acusado de envolvimento em esquema de desvio de dinheiro do BNDES. O Conselho rejeitou o parecer do relator, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), que pedia a cassação do parlamentar.
O nome de Paulinho apareceu durante as investigações da Operação Santa Tereza, da Polícia Federal. Paulinho não compareceu ao julgamento porque compareceu a 5ª Marcha das Centrais Sindicais, que
reuniu cerca de 30 mil pessoas em Brasília.
A absolvição do deputado contou com o apoio dos partidos da base aliada, incluindo o PT. Votaram contra o relatório que pedia a cassação os
petistas Fernando Melo (AC) e Leonardo Monteiro (MG), além dos deputados
Sandes Júnior (PP-GO), Wladimir Costa (PMDB-PA), Efraim Filho (DEM-PB), Dagoberto (PDT-MT), Abelardo Camarinha (PSB-SP), José Carlos Araújo (PL-BA), Marcelo Ortiz (PV-SP) e
Romulo Gouveia (PSDB-PB). Votaram pela cassação, os deputados
Moreira Mendes (PPS-RO); Rui Pauleti (PSDB-RS) e
Solange Amaral (DEM-RJ), além do relator,
Paulo Piau (PMDB-MG).
O deputado José Carlos Araújo ficou de redigir um novo parecer com a absolvição de Paulinho e apresentá-lo ao Conselho de Ética daqui a duas semanas. A absolvição de Paulinho faria parte de um acordo firmado pelo PT, durante as eleições municipais, em que os partidos do chamado bloquinho, entre eles o PDT, PSB e PCdoB, apoiariam a candidatura da ex-ministra Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo.
Paulinho estava na 5ª Marcha da Classe Trabalhadora, organizada por seis centrais sindicais, na Esplanada dos Ministérios. Ele disse que não poderia deixar de participar do evento para acompanhar o julgamento, pois
foi eleito para defender os interesses dos trabalhadores.
"Não quis participar do julgamento para não constranger o voto dos deputados", disse. "Acho que eles entenderam todo o processo e perceberam a perseguição que existe contra mim no Congresso. Estou muito tranqüilo", completou.
Outros processosApesar de ter sido absolvido no Conselho de Ética,
Paulinho ainda é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. O primeiro apura se ocorreram irregularidades na
contratação da Fundação João Donini para ministrar cursos profissionalizantes para desempregados e pessoas de baixa renda utilizando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) destinados à Força Sindical.
De acordo com informações encaminhadas pelo Ministério Público Federal ao STF, há suspeitas de fraude na contratação, inclusive com o
uso de alunos fantasmas. Um dos indícios seria o fato de uma auditoria ter encontrado um elevado número de alunos matriculados mais de uma vez para o mesmo curso, sendo que muitos desses cursos eram ministrados no mesmo horário e em cidades e até Estados diferentes.
O segundo tramita em segredo de Justiça, o inquérito apura suposto
envolvimento do deputado em um esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Comentário da fonteOs votos da base aliada eram esperados. Mas a rejeição ao parecer do relator poderia ter-se dado sem o concurso de um tucano e de um democrata. Ainda assim, o resultado seria de 8 a 6, e este monumento moral da política e do sindicalismo brasileiro teria se safado igualmente.
Os dois partidos, diga-se, só estarão preparados para voltar ao poder quando, em questões dessa natureza, fecharem questão. Ou, quando menos, derem um pito público nos que votaram pela rejeição. Não custa lembrar que o próprio Supremo decidiu abrir um inquérito contra Paulinho, acusado pelo Ministério Público de desvio de verbas do FAT.
Fonte: Reinaldo Azevedo
COMENTO: Em primeiro lugar, uma correção. A marcha das Centrais sindicais reuniu pouco mais de 4.000 "trabalhadores" com o único objetivo de tumultuar o trânsito de Brasília, pois nenhum dos que foram entrevistados pelos meios de comunicação conseguiu definir as "reivindicações" do movimento. Nem o propósito de chamar a atenção conseguiram pois chegando na Esplanada dos Ministérios dispersaram-se para fazer o que realmente pretendiam: tirar fotografias no gramado central e visitar os prédios mais interessantes. Em segundo lugar, a triste constatação: acima de posições partidárias, o que vale mesmo no parlamento brasileiro é o corporativismo e a troca de favores. Esse é o motivo de tantas safadezas governamentais: a certeza de que pode contar com o apoio até da "oposição" em caso de perigo.