Por Arlindo Montenegro
Naquele tempo... Parece até que é um passado muito distante... Mas foi outro dia e tenho guardadas todas as imagens, os sons, os risos e olhos brilhantes. O que sinto falta mesmo é da prática constante da boa educação doméstica: ceder o assento nos transportes urbanos para os mais velhos, para as mulheres e crianças. Era muito fácil fazer amigos no trem, na lotação, na barca: com qualquer pessoa sentada ao lado rolava o papo durante a viagem. As pessoas não eram “estranhas”, apenas pessoas como nós mesmos.Aquelas greves diárias eram mesmo uma pedra no sapato. Era uma novidade contrária aos hábitos e um desrespeito a gente que queria chegar aos locais de trabalho e não podia. O governo, que tinha que acabar com aquilo, parecia fomentar aqueles movimentos sem resolver os muitos problemas postos. Reforma agrária era um deles, pra não faltar mais feijão preto no armazém da esquina ou nas Casas da Banha, antecessora dos modernos supermercados.
A coisa foi apertando. Greve de uma categoria, os comunistas da CGT alinhavando nos bastidores e daí a pouco paravam todos os trabalhadores em “solidariedade”. O trabalho parava no Pais inteiro. Negociações, e o governo dava o aumento pedido a ponto de trabalhador braçal das docas chegar a ganhar mais que médico ou engenheiro.
Alguma coisa estava fora do eixo, forçando várias instituições a mobilizar-se para exigir o respeito às Leis e propósitos de construção democrática. Vieram as grandes marchas da família com Deus pela Liberdade – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e outras manifestações espalhadas pelo Brasil afora.
Os generais tomaram o poder. A ação inicial parecia extremista com muita prisão, invasão de domicílios e polícia numa atividade nunca vista. Jornais, televisão, rádios, advogados, juízes funcionavam a todo vapor, documentando e informando, comemorando o chega pra lá nos comunistas. As embaixadas se encheram com ativistas políticos fugindo à prisão. Começaram a sair para o Chile, Uruguai, França, México, dezenas, centenas de pessoas, comunistas e simpatizantes.
Pouco a pouco tudo foi voltando à rotina. No dia 24 de janeiro de 1967 foi promulgada uma nova Constituição, assegurando todos os direitos e garantias, a normalidade dos processos judiciais, a rotina dos inquéritos policiais militares. As pessoas eram indiciadas por crimes políticos e soltas por habeas corpus.
Muitas viajavam para viver no exterior, esperando melhores dias. Para o povão os dias estavam melhorando. Havia ordem, segurança e a oferta de postos de trabalho que chegou ao pleno emprego. O país saia em poucos anos da condição de economia agrária para a economia industrial, melhorando a vida dos trabalhadores.
Mas eis que, em 1968, estudantes e ex militares ativados por grupos radicais de esquerda começaram a assaltar bancos, seqüestrar pessoas e colocar bombas, como aquela do Aeroporto de Guararapes, endereçada ao Marechal Costa e Silva e que acabou por matar um Almirante e ferir muitas pessoas que nada tinham a ver com política. Aqueles grupos recebiam treinamento de guerrilhas em Cuba. Voltavam clandestinamente ao Brasil. Do Uruguai, Brizola, confinado, orientava um grupo.
Dezenas de outros alinhados com várias siglas – PC do B, PORT, VPR, ALN, MR-8, queriam mobilizar a população para uma guerra civil prolongada para substituir a ditadura militar (que intentava preparar o país para a construção democrática). Todos os documentos indicavam a mesma intenção: tomar o poder e implantar uma ditadura totalitária comunista no Brasil. Até o Partido Comunista ainda era contra a aquela guerra.
Diante da guerra não declarada, o governo engrossou. E editou o Ato Institucional que instalava de fato uma ditadura com plenos poderes para enfrentar a guerra assimétrica, que já estava fazendo vítimas de sangue e provocando perdas materiais e insegurança para empresas e para a população.
A população buscava informar-se e sabia guardar fidelidade aos fatos, sem deturpar os eventos recentes, percebidos como contrários à vontade da nação. Nos anos seguintes morreram centenas de brasileiros: militares, policiais, militantes comunistas brasileiros e estrangeiros. Nos entreveros sobraram balas vitimando cidadãos inocentes.
O saldo de cinco anos de enfrentamento está descrito em farta literatura, ideologicamente tendenciosa em sua quase totalidade, marcando uma revisão histórica em que, os agressores que desejavam implantar a ditadura comunista, figuram como “democratas” e os militares como ditadores contrários aos interesses da Pátria. Como se o interesse legítimo fosse aquele descrito pela Internacional Comunista e não o estado de pleno emprego e progresso material vivido.
Grupos e individualidades, nos dias de hoje, atribuem-se, como militantes, a “resistência”, a “luta (armada) contra a “ditadura”. Queriam implantar a “ditadura do proletariado” no final de uma guerra fratricida prolongada.
Alguns até reconhecem que erraram. Todos os que intentavam o fratricídio se apresentam hoje como “defensores da democracia e da liberdade”. Continuam defendendo como humanistas libertários e democratas os mais infames e sanguinários ditadores comunistas: Castro, Mao, Stalin, Pol Pot, Kim Il Sung...
Isto passa longe de ser fidelidade aos eventos reais. Constitui-se numa falsificação do passado sórdido, que é ensinado como exemplo a ser seguido pelas novas gerações. Renunciar à informação completa, ao conhecimento dos motivos e intenções descritas em documentos é o mesmo que renunciar à liberdade. Isto significa abraçar a ignorância e escolher a escravidão dogmática da ideologia mais brutal que a humanidade experimentou.
Os navios russos já estão navegando em nosso hemisfério a convite da Venezuela. Os russos vão construir um reator nuclear no país vizinho. Será uma nova guerra fria? Por que será que a Rússia que hoje adota a economia capitalista vem em defesa de um país do outro lado do mundo, cujo governante declara querer implantar uma ditadura do proletariado nos velhos moldes? E por que exatamente no instante em que se realinham as reservas e influências da ditadura financeira internacional?
Por que será que os nossos “democratas” mascarados, (que enriqueceram com indenizações milionárias por terem escolhido atuar numa guerra para implantar o “comunismo”, “ditadura do proletariado” ou “socialismo”, totalmente contrário à cultura e tradições dos brasileiros) negam suas verdadeiras intenções enquanto seguem por debaixo do pano com seus projetos antigos? Por que será que os brasileiros pagam tanto imposto, pagam para manter e alimentar a maior sacanagem, a maior embromação, a maior mentira da nossa história?
Por que será que os jornais da atualidade não têm a dignidade moral do Estadão e do Jornal da Tarde, nos anos do AI-5, quando a ditadura militar censurou a imprensa? Naquele tempo, os editoriais dos jornais citados publicavam versos de Camões e receitas de bolo, que a gente lia pensando: “tem boi na linha”. E tinha. Exagero ou não preservavam-se informações que os governantes classificavam como prejudiciais à segurança naquele ambiente de guerra civil em gestação. Aquela imprensa era altaneira e independente.
A ditadura disfarçada de hoje mente. Aos jovens de hoje é negada, roubada a liberdade de informação, a verdadeira história, o significado daqueles anos de guerra fratricida que, por mérito da censura, da ditadura militar, do sacrifício de milhares de soldados e policiais anônimos, ficou circunscrita a uma parcela minoritária (quase que percentualmente insignificante) da população.
Aquele regime duro impediu a guerra fratricida desejada por dona Dilma da VPR, seu Genoino do PC do B, seu Tarso Genro do PC do B, seu Vanucchi da ALN, seu Franklin Martins do MR-8 e outros tantos que estão por aí nas diversas instituições, jornais e universidades. Os rios de sangue, a matança fria que eles desejavam foi impedida pela ação e organização dos agentes da ditadura militar.
Os brasileiros que trabalhavam, construíam, comemoravam seus méritos, torciam por seus times, ansiavam pelo fim dos seqüestros, desvio de aviões da rota comercial, assassinatos, assaltos a bancos e empresas, bombas e atos terroristas que nem de perto alcançavam o terror e medo que as nossas cidades vivem hoje, que as nossas comunidades mais pobres vivem hoje sob o controle de traficantes. Os mesmos que aprenderam a organizar-se no convívio com os guerrilheiros comunistas presos nas mesmas cadeias.
Naqueles dias e anos do AI-5 havia uma oposição democrática presente. Mas era oposição também aos que praticavam atos de terrorismo. Como a população trabalhadora, naquele momento, a maioria aprovou o endurecimento do regime para acabar com a guerra.
O Marechal Costa e Silva, além de ser um militar de carreira exemplar tinha total aprovação. A nossa ditadura era diferente das ditaduras comunistas e nunca limitou o direito de ir e vir, nem o direito à propriedade, nem a iniciativa privada como era na União Soviética, em Cuba, na China e em todas as ditaduras “proletárias”.
Também não tivemos execuções sumárias em massa, milhões de prisioneiros, como no Laos, na União Soviética, na China de Mao Tse Tung e em Cuba em menor escala. Nem tivemos os campos de concentração tão conhecidos hoje e que foram copiados até por Hitler. Há uma grande, colossal diferença!
Quem desejar a verdadeira história, vá aos jornais da época. Talvez ali estejam os argumentos para vencer este doentio estado de ressentimentos, de revanchismo. Talvez entendam por que tanta roubalheira. Talvez entendam por que tanta violência. Talvez percebam que as ameaças e a insegurança de hoje é implantada pelas mesmas mentalidades, pela mesma ideologia ultrapassada que embrutece e descaracteriza os ideais humanos, aniquilando a força espiritual.
Convivi com comunistas que ficaram envergonhados quando Nikita Kruchiov denunciou os crimes de Stalin. Ora! Nikita era um dos operadores de Stalin. Os comunistas envergonhados continuaram acreditando na possibilidade de um socialismo light, humanista até.
Muitos acadêmicos de hoje ainda acreditam nisto. Omitem a verdadeira natureza do poder totalitário que descarta e elimina qualquer contrário. E mantém, consolida o medo, a submissão, o terror continuado. Fazendo uma analogia: as populações ficam caladas diante da brutalidade para preservar a vida, como os habitantes das periferias dominadas pelos bandidos traficantes que distribuem benesses e mantêm o controle portando armas de guerra.
A Ditadura Militar arou o terreno para a infra estrutura material e educacional de um Brasil que devia ser diferente, mas foi assaltado e continua sendo roubado e enganado pelos mestres da violência. Junto com o que resta de Forças Armadas, somos todos reféns do mais fantástico esbulho universal. Somos alvos de um Poder impiedoso que transforma a gente em número, estatística, coisa, massa de manobra.
Arlindo Montenegro é Apicultor.
Fonte: Alerta Total