por Paulo Ricardo Paul
Eu tenho escrito que nós estamos perdendo as oportunidades democráticas de conter o avanço da cleptocracia no Brasil e as eleições de 2010 demonstraram isso claramente. Temos que aprender que
a cleptocracia será detida, portanto, que o façamos de forma democrática e o mais rapidamente possível, caso contrário, ela será detida de uma forma ou de outra.Meu pai foi preso em 1964, ele ficou pouco mais de uma semana no DOPS - Rio de Janeiro, na época eu tinha apenas sete anos e pouco sei a respeito, a não ser a dor de estar afastado dele, o sofrimento familiar. Eu e ele fizemos um pacto tácito sobre essa prisão, ele praticamente nada contou do período no cárcere e eu nada perguntei, acordo que valeu até 1996, quando ele desencarnou e eu perdi a presença física de um dos raros seres humanos que posso citar como exemplo de homem e de vida.
Escrito isso deixo claro que tenho minhas queixas pessoais contra os governos militares, eu e minha mãe temos seqüelas desse período, embora não tenhamos solicitado qualquer compensação financeira do Estado brasileiro. Portanto, deixo claro que
os diagnósticos que se seguem não passam nem de perto por um saudosismo do período dos governos militares, por ser um militar estadual, apesar de reconhecer uma série de conquistas nacionais no período dos governos militares.Ao analisarmos cada fato, através da nossa interpretação, acabamos construindo um diagnóstico, que pode ser correto ou inteiramente equivocado, assim sendo, solicito que usem esse filtro para interpretarem o contido nesse artigo.
Primeiro diagnóstico: a insatisfação.
Tenho amigos nas Forças Armadas e troco informações com vários militares federais sobre diversos assuntos, oportunidades nas quais procuro avaliar entre outras questões, o atual estágio emocional das tropas diante da cleptocracia que se instala no país, em face da responsabilidade das Forças Armadas de defenderem os interesses nacionais.
Conclui que
a insatisfação é generalizada, logo abaixo do andar dos Oficiais Generais.Segundo diagnóstico:
faltam lideranças, mas as bases podem despertar.O soberano só dorme tranqüilo, quando os soldados estão satisfeitos. Essa é uma máxima que não pode ser esquecida, sobretudo quando se vive em uma democracia ainda em construção, como ocorre no Brasil. A insatisfação das tropas é algo muito perigoso considerando que
os pátios castrenses são cobertos por uma pólvora invisível, mas que entra em combustão na primeira batida mais forte com o pé no chão, durante uma marcha. Apesar de tal realidade, no momento
não percebo lideranças que possam desencadear o processo de cima para baixo, mas ele pode se iniciar de baixo para cima, não podemos esquecer. Além disso, o estopim pode nem estar dentro dos quartéis das Forças Armadas, podem estar no quartel do lado.
Terceiro diagnóstico: uma greve nacional das Polícias Militares pode começar pelo Norte e Nordeste.
O ano de 2010 terminou com uma corrente de
emails percorrendo a internet no sentido de que caso a PEC 300 não fosse votada poderia ser desencadeada uma greve nacional de Bombeiros Militares, Policiais Militares e Policiais Civis. A greve ainda não ocorreu. Sinceramente, como já escrevi nesse espaço, nunca acreditei nessa possibilidade, considerando a falta quase que completa de mobilização nos maiores estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc. Mantenho essa posição, porém faço uma ressalva:
algumas Polícias Militares do Nordeste e do Norte estão motivadas e podem funcionar como catalisadores de uma greve nacional.Quarto diagnóstico: o efeito cascata.
A greve geral pode começar pelo Nordeste ou Nordeste e se espalhar.
Iniciada a expansão do movimento grevista, penso que
o atual governo deve avaliar a possibilidade das Forças Armadas não reprimirem a mobilização, ao contrário, aderirem a partir das bases. Tal possibilidade significará uma irreversibilidade do movimento e o início do processo de reconstrução nacional com o enfrentamento das forças cleptocráticas.Caso eu tenha alguma razão, a instalação de um novo governo militar no Brasil pode ter início em uma greve de uma Polícia Militar de um estado do Nordeste ou do Norte.
Os meus diagnósticos podem estar completamente equivocados, aliás,
a passividade existente no ar por parte do povo e das forças nacionais, sinaliza contra os meus diagnósticos.Penso que inclusive você, meu caro leitor, também não acredite nesses diagnósticos, nessas possibilidades, porém me senti na obrigação de torná-los públicos, pois a vida ensina que
é melhor prevenir do que remediar, ainda mais considerando que não existem remédios para todos os males.Por derradeiro, lembro que a história da humanidade ensina que inúmeras mobilizações nacionais começaram com pequenos movimentos classistas ou populares.
No Brasil, o estopim pode ser um honesto Policial Militar do Norte ou do Nordeste.
Juntos Somos Fortes!
Paulo Ricardo Paul é Professor e Coronel,
Ex-Corregedor Interno da PM do Rio de Janeiro.
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