Carreira Militar
O EXÉRCITO E A MUDANÇA DA CAPITAL FEDERAL
 
 
por Manoel Soriano Neto <*>
Brasília,  “a Capital da Esperança”, é fruto do idealismo de pró-homens como José  Bonifácio, que lhe sugeriu o nome, e da férrea determinação em  construí-la, do presidente Juscelino Kubitschek.
Outros  insignes patriotas também muito contribuíram para que hoje, majestática,  em excepcional região geoestratégica – o Planalto Central Brasileiro –  se encontrasse Brasília, a “Cidade Monumento”, tombada pela ONU, em  1987, como “Patrimônio Cultural da Humanidade”.
É nosso  intuito relembrar, de forma assaz breve, a saga de militares do  Exército, precursores da mudança da capital brasileira, mencionando os  seus respeitáveis nomes.
Impende lembrar, inicialmente, que o  ilustre historiador Francisco Adolfo de Vargnhagen,Visconde de Porto  Seguro, também tenente-coronel do Corpo de Engenheiros de nosso Exército  Imperial, cujo nome consta dos “almanaks” da Força, desencadeou, no  século passado, vigorosa campanha pela mudança da capital para o  Planalto Central, área por ele percorrida, ficando célebre o ofício que  enviou, em 1877, da Vila Formosa da Imperatriz , ao ministro da  Agricultura, expondo as vantagens da dita mudança.
Entretanto,  a primeira medida efetiva visando à interiorização da capital da  República, somente se concretizaria por força do texto da Constituição  de 1891, em decorrência de uma emenda constitucional de autoria do  tenente do Exército, Lauro Müller.
Em maio de 1892, foi criada  uma comissão para explorar o Planalto Central, região prevista na  citada Carta Magna de 1891, com vistas à localização do futuro Distrito  Federal. Tal comissão foi chefiada pelo engenheiro belga, naturalizado  brasileiro, diretor do Observatório Astronômico e Major-honorário do  Exército, Dr. Luiz Cruls, e procedeu à demarcação, durante nove meses,  do que ficou conhecido como “quadrilátero Cruls”.
Em 1893, no  governo do marechal Floriano Peixoto - o brasileiro mais entusiasta pela  transferência da capital - foi formada nova comissão, sendo Cruls outra  vez chamado para chefiá-la, com a incumbência de escolher, na região  anteriormente demarcada, a definitiva área do futuro município neutro,  os trabalhos, iniciados em 1894, foram interrompidos, por dificuldades  financeiras, em 1897, quando do governo de Prudente de Morais.
Ressalte-se  que quase todos os componentes das duas comissões eram militares ou  servidores civis do Exército. Assim, o relacionamento com o Dr. Cruls  era excelente, máxime porque ele fora 1° Tenente do Exército da Bélgica,  era Major-honorário de nosso Exército e lente da Escola Superior de  Guerra, tendo inclusive recebido, em 1895, a honorificência de  Tenente-Coronel-Honorário do Exército Brasileiro. A Comissão  Exploradora de 1892, era basicamente militar, tanto que dezesseis dos  seus vinte e dois membros eram oficiais do Exército ou funcionários do  Ministério da Guerra, isso sem contar o contingente de apoio e  segurança, também da Força. Entre os oficiais que serviram sob as ordens  de Cruls, merecem ser citados o major médico Dr. Pedro Gouvêa, o  capitão Pedro Cordolino de Almeida e os tenentes Augusto Tasso Fragoso,  Hastimphilo de Moura, Antônio Cavalcanti de Albuquerque e Alípio Gama.
Hoje,  o augusto nome de Luiz Cruls foi resgatado pelo Exército Brasileiro,  que concedeu, em 1999, à 11ª Região Militar, sediada em Brasília, a  denominação histórica de “Região Tenente-Coronel Luiz Cruls” e o  respectivo estandarte histórico.
Na relembrança da memória de  Luiz Cruls, merecem ser transcritas as palavras do saudoso historiador  militar general Hans Gerd Haltenburg, contidas em seu precioso arquivo:  “Foi Soldado. Alma de Soldado, soube cumprir missões. Aprendeu a amar a  nova Pátria. Aqui casou. Aqui deixou descendentes. Aqui repousa. Morreu  pelo Brasil”...
Após a interrupção dos trabalhos da segunda  Comissão Cruls, o assunto  da mudança quedou esquecido. Isso se deveu,  fundamentalmente, ao saneamento e à modernização do Rio de Janeiro e às  concomitantes restaurações das fortalezas daquela cidade e reequipamento  da Marinha, ocorridos no princípio do século, além da evolução  tecnológica dos meios bélicos, o que invalidava, em parte, as  estratégias de defesa da capital da República. Diga-se, por ilustração,  que a Constituição de 1946 restabeleceu o artigo referente à mudança da  Capital para o Planalto Central, eis que havia sido suprimido pela  Constituição de 1937.
Somente em 1946, o assunto volta à  baila, quando o presidente general Eurico Gaspar Dutra constituiu uma  comissão de estudos para a localização da nova capital, cuja chefia  coube ao general Djalma Poly Coelho. O relatório da comissão ficou  pronto em agosto de 1948 .
Em 1953, forma-se a Comissão de  Localização da Nova Capital, presidida pelo general Aguinaldo Caiado de  Castro, chefe da Casa Militar do presidente Vargas, que concretizou,  integralmente, os objetivos previstos, coroando-os com um minucioso  levantamento fotogramétrico dos cinco sítios escolhidos pela Comissão  Poly Coelho.
Em 1955, convidado pelo presidente Café Filho,  assume a presidência da mencionada comissão, o general José Pessoa  Cavalcanti de Albuquerque. Ela foi responsável pela exata escolha do  local, onde hoje, portentosa, se ergue Brasília. Em 1955, partem de  Formosa, em um comboio de seis jeeps, o general José Pessoa, o  governador em exercício, Bernardo Sayão, o notável geopolítico marechal  Mário Travassos e o capitão Dr. Ernesto Silva . A comitiva passa por  Planaltina e chega, após 4 horas de viagem, à parte mais elevada do  Sítio Castanho, atrás de onde hoje se encontra o “Memorial JK”,  memorável ato histórico de presença que foi protagonizado por quatro  insignes brasileiros, três dos quais eram oficiais do Exército e que  caracterizou a escolha e “posse” do precitado Sítio, para a construção  de Brasília. Muito importante é dizer-se que, por solicitação do general  José Pessoa, o então governador de Goiás, José Ludovico de Almeida,  exarou um decreto declarando de necessidade e utilidade públicas e de  conveniência ao interesse social, toda a área onde se sediaria o  Distrito Federal. À tarde de 30 de abril de 1955, um sábado, reuniram-se  o governador José Ludovico e o general José Pessoa para acerto de  detalhes do decreto, linhas atrás referido, o qual foi assinado no dia  seguinte, 1° de maio, com data de 30 da abril, causando grande surpresa,  mas impedindo a especulação imobiliária que adviria, caso esse ato  legal fosse do conhecimento da população. José Pessoa, acendrado  patriota e idealista, assim antevia o radioso futuro do Planalto  Central: “O altiplano brasileiro sempre exerceu poderoso fascínio sobre  os nossos primitivos habitantes, como se deu na era aurífera de São  Paulo e Minas e não tenhamos dúvida de que o mesmo acontecerá, num  futuro próximo, com aquele Planalto, será com sangue novo que lhe  faremos o povoamento e grandeza”.
Por derradeiro, frise-se que  quando se iniciou a construção da Capital Federal, em 1956, as  primeiras moradias de Brasília, as dos candangos, foram as barracas  verde-oliva do Exército, trazidas em enorme quantidade para o Planalto,  por ordem pessoal do ministro da Guerra, general Henrique Lott,  outrossim, ele deu prioridade máxima à construção de quartéis,  determinando a imediata criação/instalação da 6ª Companhia de Guardas, a  primeira Organização Militar do Exército no Distrito Federal, porquanto  era um ardoroso admirador do obstinado ânimo do presidente Juscelino,  como nos ensina o emérito historiador, Dr. Jarbas Silva Marques.  Aduza-se que os invulgares nomes de Floriano Peixoto, Tasso Fragoso,  Eurico Dutra e José Pessoa são denominações históricas de Organizações  Militares do Exército Brasileiro. Mais recentemente, outras denominações  foram concedidas, para a 11ª Região Militar, de Brasília, “Região  Tenente-Coronel Luiz Cruls”, para a 3ª Brigada de Infantaria Motorizada,  de Cristalina, “Brigada Visconde de Porto Seguro”  e para o 11°  Depósito de Suprimento, de Brasília, “Depósito Marechal Mário  Travassos”, Organizações aquarteladas no Planalto Central Brasileiro,  cujos Patronos tanto contribuíram para a criação de Brasília.
Eis,  em síntese, mesmo que imperfeita e incompleta, o que foi, através de  várias épocas, a participação do Exército, pelo benemérito labor de  alguns de seus abnegados integrantes, na mudança da capital do País,  inaugurada em 21 de abril de 1960 e consolidada pelos primeiros governos  da Revolução de 31 de março se 1964. De Vargnhagen, ainda ao tempo do  Império, a Lauro Müller e Floriano Peixoto, passando por Cruls até o  general Dutra  e deste a Poly Coelho, Caiado de Castro, José Pessoa,  Mário Travassos, Ernesto Silva e Henrique Lott, muito foi feito pelo  invicto e glorioso Exército Brasileiro, com vistas à materialização do  sonho de interiorizar-se a capital do Brasil.
Eis por que os  militares da Força Terrestre Brasileira, desde sempre, ufanam-se em  pertencer à “mais lídima e representativa das instituições nacionais - o  verdadeiro índice do povo brasileiro” -, no dizer do inesquecível  sociólogo Gilberto Freyre.
<*> Manoel Soriano Neto, Coronel Reformado do EB, 
de Infantaria e Estado-Maior, Historiador Militar.
Fonte:   Usina de Letras
 
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