Carreira Militar
Guerra na Geórgia: Bem-vindo à Era Kosovo - 12/8/2008
A bagunça sangrenta na Geórgia obedece a duas lógicas internas: uma nova e uma velha:
A nova: Estamos a Era pós-Kosovo. Atualmente, toda etnia ou região vagamente autônoma possui pelo menos algum respaldo moral e diplomático para buscar uma separação, devido ao precedente na antiga Iugoslávia. Sob esta ótica, as turras entre a Geórgia e a Ossétia do Sul não são surpresa alguma. Eram inevitáveis.
A velha: Ninguém brinca quando oleodutos estão em jogo. Um dos motivos do conflito na Chechênia ter a duração e sanguinolência que todos podemos ver é a existência de um oleoduto importante na região. Da mesma forma a Geórgia serve de zona de passagem para sistemas de gás natural e petróleo sem cruzar território russo e fora de sua zona de influência.
Ambos os lados afirmam que o outro foi o agressor, e de certa forma, ambos estão certos. O presidente Mikhail Saakashvili, que até ano passado chamava a atenção principalmente pelo feroz estilo Pinochet que empregava para conter manifestações da oposição, declarou mais de uma vez que reaver a Ossétia do Sul era sua intenção. Uma semana após um referendo garantiu status autônomo para a região, Saakashvili pisoteou a Ossétia com tropas. Desde a resposta russa, passa mais tempo na frente das câmeras do que falando com diplomatas ou com seu próprio gabinete.
Por outro lado, a Federação Russa está de olho na situação e buscando uma desculpa para se envolver há cerca de cinco anos. O pavoroso ataque terrorista checheno na Ossétia do Norte, que culminou no massacre de Beslan, apenas reforçou a paranóia russa em relação ao status de suas fronteiras. Apesar da Rússia tradicionalmente trair seus aliados com uma casualidade perturbadora, parece que os ossetas deram sorte.
Foi um dominó estranho: Saakashvili reagiu com rapidez e violência incomuns a um revés na Ossétia, sugerindo que já estava preparando um ataque. A Rússia, por sua vez, reagiu à reação com rapidez e violência incomuns, sugerindo...a mesma coisa.
Alianças comprometedoras
Geórgios e ossetas já trocavam tapas quando Lênin ainda estava na primeira fralda. É triste recorrer a clichês, mas o Cáucaso e o Bálcãs são assim: uma série de vales entre montanhas, cada um contendo uma tribo, e cada tribo prefere atear fogo aos próprios filhos a ir jantar no vale vizinho. Assim tem sido desde o nascimento da escrita. A exploração política e nacional desta tendência é apenas alguns segundos mais jovem.
A única coisa que mudou (e permitiu o agravamento atual) foi que ambos os lados ficaram autoconfiantes demais devido a alianças recentes. A Geórgia caiu no colo dos EUA, chegando a mandar mais de dois mil soldados ao Iraque (Após os EUA e a Inglaterra, são o maior contingente na ocupação). Isso custou caro: quando tanques russos estão tesourando suas linhas de suprimento, ter uma brigada de suas melhores tropas assando no verão bagdáli são uma enorme desvantagem para um país pequeno.
Já os ossetas reforçaram seus laços com a parte russa da região, como foi dito, desde o ataque em Beslan. Dezenas de milhares de cidadãos da Ossétia do Sul possuem passaporte russo e são culturalmente integrados.
Duas propostas de cessar-fogo já foram deletadas. A oferecida pelos russos exigia a remoção das forças da Geórgia de toda a Ossétia do Sul, primeiro passo para uma independência da província. A oferta da Geórgia foi apenas que todos parariam de atirar, mas suas tropas ficariam onde estão. A propaganda tem sido intensa dos dois lados.
Não é nada estranho que Saakashvili tenha rejeitado as ofertas de cessar-fogo até o presente momento. Para o presidente, cronicamente impopular antes desta crise (“Não economizaremos balas para lidar com manifestantes”, declarou em 2007), sair da matança de mão vazias será um suicídio político. Por agora, todo o país está a seu lado, e após anos de treinamento e re-equipamento fornecido pelos EUA e Israel, as forças armadas geórgias estão dando trabalho aos russos.
O problema é que apenas causar baixas não é o bastante; a doutrina militar russa sempre priorizou objetivos e logística acima de segurança total de suas forças (ao contrário dos EUA e Israel). Para segurar os russos, a Géorgia precisaria de uma vitória estratégica. Por algum motivo, eles falharam em interromper a estrada que conecta as Ossétias Sul e Norte, uma passagem sinuosa pendurada nas montanhas. Alguns quilos de dinamite e todos os suprimentos russos teriam que ser transportados pelo ar, de forma cara, lenta e arriscada. Por ter esquecido esse detalhe, a Geórgia pode já ter lutado em vão. Um segundo movimento e reforço por parte do Exército russo não poderá ser contido.
No palco internacional, as mensagens sendo enviadas são muitas. A Rússia anuncia que não vai aceitar bagunça com suas fronteiras e seus aliados. A Ossétia desafia a comunidade internacional a manter o Padrão Kosovo e pede independência. A Geórgia posa de vítima e cobra maior envolvimento de seus parceiros ocidentais, talvez até mesmo sua efetivação na OTAN. Os Estados Unidos tentam equilibrar o suporte aos seus aliados (parco até o momento) com seus planos futuros de projeção, especialmente visando um camarada da Rússia, o Irã.
Em tempos de Guerra Fria, uma crise como a atual poderia ser uma das temidas faíscas que acenderiam a explosão final. No contexto atual, são um re-posicionamento de potências globais e regionais, testando limites e buscando ganhos políticos e territoriais. O conflito de hoje semeia a crise amanhã.
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Fonte: Mundo RI (http://www.mundori.com/web/view.asp?paNumero=1333)
COMENTO: Por aqui, temos as Terras Indígenas dos Ianomami e Raposa Serra do Sol, ricas em minerais raros e caros, com suas "populações indígenas" sendo incentivadas a encaminhar-se para serem os Kosovos cucarachas.
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