DEUTSCHLAND ÜBER ALLES IN DER WELT: LÁ, UMA MENTIRA DERRUBA MINISTROS
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DEUTSCHLAND ÜBER ALLES IN DER WELT: LÁ, UMA MENTIRA DERRUBA MINISTROS


por Janer Cristaldo
Há países que ainda conservam um certo pudor. Domingo passado, caiu Michèle Alliot-Marie, a chanceler francesa que aceitou carona em um avião de um preposto do general Zine El Abidine Ben Ali, o ditador recentemente deposto da Tunísia. Verdade que Patrick Ollier, seu amante e ministro de Relações com o Parlamento – que voou no mesmo avião no réveillon passado, continua ministro.
Como também François Fillon, que aceitou mordomias de Osni Mubarak, o ditador egípcio. De 26 de dezembro ao 02 de janeiro, o premiê viajou de Assuã a Abu Simbel, “convidado pelas autoridades egícias”. Sua estada e a de sua família, em uma mansão privada situada na ilha Elefantina, administrada pelo hotel Movenpick, também esteve a cargo das autoridades do país. Como também uma excursão pelo Nilo. Mais ainda: foi o próprio ditador quem ofereceu a Fillon o jato privado.
Um certo pudor, dizia. Pudor total é pedir demais. Na Alemanha, renunciou hoje o ministro da Defesa Karl Theodor Maria Nikolaus Johann Jacob Philipp Franz Joseph Sylvester Freiherr von und zu Guttenberg. Segundo os jornais, políticos de oposição haviam pedido à chanceler Angela Merkel que afastasse o ministro do cargo, acusando-o de "impostor" e "mentiroso". Caiu por deslize aparentemente menor que o da chanceler francesa. Descobriu-se que havia cometido plágio em sua tese de doutorado, ao não creditar corretamente as fontes e a bibliografia utilizadas em seu trabalho. Na semana passada, a universidade de Bayreuth havia cassado seu título. Já é algo.
Chez nous, Dilma Rousseff, quando ministra-chefe da Casa Civil, ao divulgar seu currículo na Plataforma Lattes, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), atribuiu-se um mestrado e um doutorado em Ciências Econômicas pela Unicamp. Nem precisou plagiar. Conferiu a si mesmo os títulos, sem precisar de banca ou defesa de tese. Flagrada, admitiu não ter concluído os cursos de mestrado e doutorado, apesar de a informação constar em seu currículo no site do ministério. Afirmou na época que iria apurar de quem foi a responsabilidade pelas informações publicadas. Foi então eleita presidente da República e até hoje não sabemos quem foi o responsável pelas informações publicadas. Melhor esquecer. Se mentiras derrubam ministros na Europa, no Brasil elegem presidentes.
Por outro lado, a prestigiosa London School of Economics (LSE), que faz parte da Universidade de Londres, descobriu plágios na tese do Dr. Saif al-Islam, trabalho de 429 páginas, que aborda a importância da democracia para a governança global. O doutor em questão, ironicamente e não por acaso, é filho de Muamar Kadafi, o ditador líbio que está pela bola 7. O novel doutor, tampouco por acaso, dirige uma fundação que doou à universidade londrina 1,5 milhão de libras, o equivalente a mais de R$ 4 milhões. Está custando caro um Dr em Londres. Mas Kadafi é provedor generoso. Se comprou um time de futebol na Itália para que um seu outro rebento pudesse jogar, comprar um diploma numa universidade britânica é argent de poche.
Em entrevista concedida ontem a uma rádio britânica – segundo leio na imprensa - o diretor da faculdade, Howard Davies, admitiu estar envergonhado pela situação. Ainda mais depois das aparições do filho de Kadafi na TV estatal para defender o regime do pai, num momento em que os manifestantes estão sendo reprimidos com violência. Shame on you! Mas não houve vergonha alguma ao aceitar a grana do filho de um ditador árabe.
Cá no Brasil, a desconfortável prática de punir um acadêmico por plágio parece estar começando a preocupar os universitários. A USP, por exemplo, demitiu o professor Andreimar Soares, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, com mais de 15 anos de carreira, após entender que ele liderou pesquisa que plagiou trabalhos de outros pesquisadores.Verdade que poupou a ex-reitora Suely Vilela, co-autora da pesquisa questionada. Mas aí também é pedir demais. Reitor já atravessou o cabo da Boa Esperança. Está imune às tempestades da mídia.
Como imune permaneceu a petista Marilena Chauí, a sedizente filósofa da Fefeleche, como é conhecida a Faculdade de Letras e Ciências Humanas da USP. Plagiou vergonhosamente seu orientador, Claude Lefort. O plágio foi publicamente denunciado por José Guilherme Merquior, aliás com um eufemismo: o ensaísta usou o termo desatenção, não mais que isso. Foi o que bastou para que uspianos e similares jogassem Merquior, com abaixo-assinado inclusive, nas profundas do inferno da direita.
Houve até quem dissesse que "Marilena é intelectual e militante. Não possui o tempo necessário para leituras. Ela pode agir assim, pela causa". Claude Lefort, a única parte legítima para denunciar juridicamente o crime, também o relevou, o que deixa no ar a pergunta: que ocultos favores estaria Lefort agradecendo?
Como imune também permaneceu Ana Cristina César, por exemplo, que em seu trabalho de mestrado entregue à Escola de Comunicação da UFRJ em junho de 1979, plagiou gordos parágrafos da tese de doutorado de sua orientadora, professora e amiga, Heloísa Buarque de Holanda. Ana C., como é conhecida, suicidou-se em odor de santidade e seu plágio ficou relegado ao esquecimento.
Como também o de Chauí. Se Karl Theodor Maria Nikolaus Johann Jacob Philipp Franz Joseph Sylvester Freiherr von und zu Guttenberg teve seu título cassado pela universidade de Bayreuth, a PhDeusa uspiana permaneceu, impertérrita, no magistério da USP, quando deveria ter sido excluída dos quadros da universidade a que pertence. Mas ela é petista. Pode agir assim, pela causa.
Deutschland über alles, über alles in der Welt, onde ainda resta um certo pudor. Lá, uma mentira derruba ministros. Aqui, elege presidentes.
 Fonte:  Janer Cristaldo



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