por Reinaldo Azevedo
Jamais cometa o erro, leitor, de considerar que Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, chegou ao limite. Sempre será um erro. Ele é tão ousado, mas tão ousado, naquele tipo particular de ousadia a que se dedica, que pode superar a si mesmo. Amorim é assim: quando se trata de degradar a política externa brasileira e de alinhá-la com delinqüentes da América Latina, ele sempre bate o próprio recorde.
Só há uma coisa pior do que Celso Amorim: é Celso Amorim no dia seguinte.Postei a notícia aqui ontem. O Brasil resolveu fazer coro à gritaria do tiranete Hugo Chávez e resolveu cobrar “transparência” da Colômbia, que está debatendo um novo acordo militar com os EUA. Releiam o que disse o chanceler brasileiro:
“Eu acho, pessoalmente, que, se há uma preocupação em relação a um novo acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos, seria bom, digo isso no total espírito de amizade, que a Colômbia, transparentemente, diga o que é, para que as pessoas ouçam e vejam. Para que possa haver uma discussão. Inclusive, com esse objetivo foi criado o conselho de defesa”, disse Amorim, em referência ao Conselho de Defesa Sul-Americano.
Se o contexto fosse outro, já escrevo a respeito, a fala já seria estúpida. Por quê?
Porque essa sua oração sem sujeito - “se há uma preocupação em relação a um novo acordo militar…” - tem um sujeito claro, definido, identificado: Hugo Chávez. É ele quem está preocupado. É ele quem está numa espécie de corrida armamentista no continente.
Há dias, a Venezuela anunciou uma cooperação militar com a Rússia. Vocês ouviram algum pio de Amorim? Agora, decidiu fazer a segunda voz para a estridência do outro, em nome daquela ridicularia chamada “Conselho de Defesa Sul-Americano”.
Esse tal Conselho, diga-se, foi proposto pelo Brasil depois que a Colômbia atacou, no que fez muito bem, um acampamento de terroristas das Farc em solo equatoriano. O único objetivo dessa porcaria, quando existir, será opor-se aos EUA.
Agora vamos ao contexto. No sábado, a revista SEMANA, da Colômbia revelou, conforme vocês leram aqui, que armamento da Venezuela, comprado de uma empresa sueca, foi parar nas mãos das Farc. Vale dizer:
estamos diante da prova provada de que Chávez fornece armamento pesado — lança-foguetes e os foguetes — para os narcoterroristas. O que antes era uma desconfiança muito fundada é agora uma certeza. Amorim se lembrou de apelar ao tal Conselho de Defesa? Pediu ao menos apuração? Nada!!! Segundo ele, não pode reagir com base “em notícia de jornal”.É um despropósito.
Quando se trata de cobrar “transparência” da Colômbia, a noticia de jornal serve. Quando se trata de censurar a Venezuela, nem mesmo a prova provada é o bastante. Notem bem: não se trata de um chute ou de uma ilação.
As armas compradas pela Venezuela, conforme testemunham a empresa que as vendeu e o governo sueco, estavam com as Farc e foram apreendidas pelo Exército colombiano. É fato, não é fofoca. É uma evidência. A prova está lá. Se Amorim quiser, pode até abraçar a bazuca. Troquem as personagens.
Imaginem se armas do Exército colombiano fossem encontradas com algum grupo que combatesse um desses gorilas de esquerda que estão à frente de governos na América Latina. O mundo viria abaixo. Mas Chávez pode armar a narcoguerrilha, estimular a arruaça em Honduras, mandar dinheiro para caixa dois de campanha na Argentina, interferir nas eleições na Bolívia e no Equador… O Brasil silencia.
Silencia?
Erro meu! O Brasil empresta o seu integral apoio. E depois a imbecilidade militante sai por aí a dizer que Lula quer ser o contraponto de Chávez na América Latina. Que contraponto? Depois do Bandoleiro de Caracas, Lula é governante mais assanhado, por exemplo, para reconduzir Manuel Zelaya à Presidência de Honduras. Não dá apoio nem mesmo ao Plano Arias. Lembrem-se que ele telefonou a Zelaya quando este estava a caminho (daquele seu jeito) de Honduras para desejar sorte e êxito.
Caso o hondurenho se levasse a sério, poderia ter havido lá um banho de sangue. Com o incentivo de Lula. O antiamericanismo, como vocês sabem, é uma droga pesada. É o crack da ideologia. O sujeito fica viciado e não consegue mais pensar. Durante anos, essa retórica foi o cimento a unir os dinossauros da América Latina. Mas Jorjibúxi já foi, está aposentado. Agora, quem está no poder é Barack Hussein, ele mesmo bastante, como direi?, antiamericano à sua maneira. Mas quê… É preciso continuar com aquela ladainha estúpida de sempre, que atribui aos EUA terríveis planos para mandar no continente — daí a tentativa de atribuir à cooperação militar Colômbia-EUA alguma secreta intenção, que requereria a anuência dos demais países da América do Sul. É uma piada!
O Brasil já explicou à Colômbia por que está comprando aviões militares? Alguém poderá perguntar: “Mas Reinaldo, considerando que o Brasil é o país mais importante da América do Sul, não faz sentido querer saber em que consiste a cooperação maior dos EUA com a Colômbia?” Ora, claro que faz. Mas isso se pode operar de modo diplomático, fora desse ambiente de Cassino do Chacrinha (com todo respeito ao apresentador) em que Amorim transformou a questão.
ELE RESOLVEU COMPARECER AO DEBATE EM APOIO A HUGO CHÁVEZ, QUE NÃO RESTE A MENOR DÚVIDA DISSO.
E o faz no momento em que esse bandidão, não tendo uma explicação razoável para as armas em poder das Farc, acuado pelos fatos, resolve acusar a vítima, que é a Colômbia. Alguns países da América Latina não estão mais sendo governados por suas respectivas leis e Constituição. Estão sob o signo de um espírito, que é o do Foro de São Paulo, que tanto mais se evidencia quanto mais a imprensa tenta negá-lo ou ignorá-lo. Refiro-me, como sabem, àquele ajuntamento de partidos de esquerda da América Latina (foi onde Raul Reyes, o tal terrorista colombiano morto no Equador, viu Chávez pela primeira vez), muitos deles agora no poder. Não se deve pensar no foro como um lugar, com sede e escriturários cuidando da burocracia. O Foro serve para o alinhamento de posições políticas. E os candidatos a ditadores, caudilhos e demiurgos nunca estiveram tão unidos no continente.
O Brasil difere um tanto de seus parceiros? Sim! A despeito de todos os esforços do PT para liquidá-las, as instituições respiram. Lula bem que gostaria de se entregar a algumas aventuras “democráticas”, mas não pode. Então aplaude e apóia incondicionalmente todas as ações no continente que têm servido para fraudar o regime democrático.
Não! Não adianta dizer que Amorim, desta vez, passou de todos os limites. Amanhã, ele ultrapassa um novo. Afinal, como é mesmo?
Só o Celso Amorim de amanhã consegue ser pior do que o Celso Amorim de hoje. Só para encerrar:
fico pensando o quanto este pobre diplomata sofreu até a chegada de Lula ao poder. Foram anos fingindo moderação e, vá lá, modernidade. Mas ele se revelou mesmo a partir de 2003: o seu negócio é estar na vanguarda do atraso, mergulhado no populismo até a cintura (onde outros estão atolados até o joelho), emprestando sua retórica à defesa daquilo que o continente e o mundo produzem de pior: genocidas, ditadores, filoterroristas, embusteiros… Um dia ainda daremos no Itamaraty um banho com o sal grosso da ética e dos valores que fizeram as democracias ocidentais. Vamos livrá-lo dos maus espíritos da demagogia, da vangloria e do atraso.
Fonte: Blog Reinaldo Azevedo - 30 de julho de 2009
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